Você passa, eu acho graça. Nessa vida tudo passa e você também passou.
Dentre as flores, você era a mais bela, minha rosa amarela, que desfolhou, perdeu a cor...
O tempo passa, e com ele a dor. Pois nessa vida tudo passa, até o amor.
terça-feira, 18 de junho de 2013
sábado, 8 de junho de 2013
"Eu gostava do Jobim e ele do Vinícius. Eu gostava do Cazuza e ele do
Frejat. Eu gostava do Radiohead e ele do Coldplay. Nossos gostos nunca
se gostavam. E a gente nunca conseguia encontrar uma música para que
pudéssemos dançar juntos. Até que um dia ele afastou os móveis da sala,
botou um CD virgem no rádio e apertou o play e me disse sorrindo “vem,
dança comigo até a música acabar”. Eu fui. Sem entender. E lá estou eu.
Dançando com o rosto colado no dele uma música infinita feita de
silêncio. Um silêncio que nunca acaba. Vez enquando surge uma vontade
enorme de cortar o silêncio com um “eu te amo”, mas contenho. Então
beijo a boca dele e copio o amor de dentro de mim para dentro dele. Ele
sorri como quem entende o recado. A música feita de silêncio vai ter a
duração exata que tem o que a gente sente um pelo outro. Porque amor é
isso, seu moço, um silêncio que dura eternamente até que um “adeus”
quebre."
sexta-feira, 7 de junho de 2013
=)
- E se eu te encontrasse na porta dum desses paraísos com entrada individual, cê me deixava?
- Eu nem passo da porta. A gente não viveu de paraísos antes, não tem porque viver agora.
- Mas você não quer largar mão dessas coisas todas que só dão dor de cabeça e economizar na conta da farmácia?
- Eu não largo mão de você. Nem da confusão dos seus olhos.
- Meus olhos?
- Seus.
- O que têm eles?
- São azuis.
- Verdes…
- Você não tá vendo a luz batendo neles agora e nem adianta dizer que eles são estáticos. A cor muda, o mundo muda. Só nós dois é que tínhamos lá uma breve inclinação pra inércia…
- E isso é ruim?
- Seus olhos?
- Não. A gente.
- Não é ruim porque a gente se entendeu num inferno. A gente não conheceu paraíso por conta de tudo um pouco. A lavanderia do apartamento, por exemplo, era pequena demais. A gente podia ter mudado de lá pra cá.
- Mas a gente mudou…
- Eu sei. Demais até.
- E você queria ficar perto do trabalho pra ir de bicicleta. Por isso a gente nunca trocou de apartamento. Você me atropelou um dia desses e ainda me chamou de pedestre estúpido, lembra?.
- A gente já começou com ódio. Eu teria socado a sua cara se você não tivesse deixado cair aquele livro do Bukowski. A gente tinha alguma coisa em comum e eu considerei o incidente um esbarrão.
- O meu joelho ficou esfolado e você era bonito demais pra eu ficar com raiva. Lembro que choveu mais tarde.
- E você me beijou. De barba mesmo. Nem deu tempo de tirar pra me mostrar mais apresentável. Mas gostei daquilo.
- Da barba ou do beijo?
- De você.
- Não me lembro direito, mas você mentiu sobre saber cozinhar. Eu descobri as caixas de comida no dia seguinte. Acordei, fui tirar o seu lixo e vi.
- E não me desmascarou no primeiro encontro por quê?
- Porque eu vi uns discos na sua estante e achei bacana o modo como você guarda as suas coisas, embaladas em saquinhos transparentes pra não pegarem pó. Vi o seu banheiro e o seu quarto arrumado e tudo aquilo fazia parecer que você tinha um zelo gigante pelo o que preza.
- Você se apaixonou pela minha mania de organização?
- Não. Eu queria ser cuidado como aqueles discos. Não pra ficar na sua estante, mas pra ser tocado, ouvido, sentido… E achei que você tinha me olhado com tanta ternura quando me deu boa noite que eu me sentiria bem ali. No seu espaço. Com o seu braço por cima e uma caneca de café. Eu gosto de café quente e dos seus óculos quadradões. Refletem bem a sua personalidade.
- Você gosta mais de mim do que os outros caras que eu tenho conhecido. Eles gostam do meu rosto ou da minha tatuagem. Gostam de uns papos sobre Dostoievski e Pushkin e leem umas coisas que eu não leria nem por obrigação. Eles gostam da minha segurança na hora de falar e do meu abraço forte. Mas acho que você foi o único que gostou do meu rubor e dos meus jeitos.
- Eu gostei de você. Com medo, mas gostei. Achei engraçado o seu rubor por eu ter te roubado um beijo naquele dia. Mas logo depois você deitou comigo e a gente dormiu.
- Eu sempre mando os outros caras embora antes do amanhecer. E não jogo o braço por cima deles. Eu nunca quis dormir com nenhum deles.
- E por que você tá me falando disso agora?
- Porque eu não desisto de você. Não ainda. A falta anda sozinha e eu fico pensando demais numas coisas em que eu não deveria pensar sem você.
- O ogro se livrou da casca?
- Com você eu nunca tive casca. Eu fui com medo. Mas fui. E eu nunca senti a confusão da cor dos olhos de mais ninguém. Até mudei a forma de guardar os meus discos depois de você.
- Mudou? Achei que nunca fosse mudar. E que ia continuar guardando discos e pessoas na sua estante.
- Mudei. E comprei uns discos novos. Passa lá em casa pra ouvir um pouco deles. Tem café também.
- Mas você odeia café.
- Não se tiver você.
- Eu tenho medo. De parar de novo na sua estante. De arruinar a sua coleção e os seus modos. De não conhecer mais as suas tatuagens e o seu hábito de mascar chicletes o tempo todo. De ter que dormir sozinho – e tá chovendo lá fora. Não sei se arrisco a solidão de um edredom a dois. Eu tenho medo de quebrar os seus discos novos como da última vez.
- Pode deixar que eu tomo cuidado dessa vez.
- Com os discos?
- Não. Com você.
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- Eu nem passo da porta. A gente não viveu de paraísos antes, não tem porque viver agora.
- Mas você não quer largar mão dessas coisas todas que só dão dor de cabeça e economizar na conta da farmácia?
- Eu não largo mão de você. Nem da confusão dos seus olhos.
- Meus olhos?
- Seus.
- O que têm eles?
- São azuis.
- Verdes…
- Você não tá vendo a luz batendo neles agora e nem adianta dizer que eles são estáticos. A cor muda, o mundo muda. Só nós dois é que tínhamos lá uma breve inclinação pra inércia…
- E isso é ruim?
- Seus olhos?
- Não. A gente.
- Não é ruim porque a gente se entendeu num inferno. A gente não conheceu paraíso por conta de tudo um pouco. A lavanderia do apartamento, por exemplo, era pequena demais. A gente podia ter mudado de lá pra cá.
- Mas a gente mudou…
- Eu sei. Demais até.
- E você queria ficar perto do trabalho pra ir de bicicleta. Por isso a gente nunca trocou de apartamento. Você me atropelou um dia desses e ainda me chamou de pedestre estúpido, lembra?.
- A gente já começou com ódio. Eu teria socado a sua cara se você não tivesse deixado cair aquele livro do Bukowski. A gente tinha alguma coisa em comum e eu considerei o incidente um esbarrão.
- O meu joelho ficou esfolado e você era bonito demais pra eu ficar com raiva. Lembro que choveu mais tarde.
- E você me beijou. De barba mesmo. Nem deu tempo de tirar pra me mostrar mais apresentável. Mas gostei daquilo.
- Da barba ou do beijo?
- De você.
- Não me lembro direito, mas você mentiu sobre saber cozinhar. Eu descobri as caixas de comida no dia seguinte. Acordei, fui tirar o seu lixo e vi.
- E não me desmascarou no primeiro encontro por quê?
- Porque eu vi uns discos na sua estante e achei bacana o modo como você guarda as suas coisas, embaladas em saquinhos transparentes pra não pegarem pó. Vi o seu banheiro e o seu quarto arrumado e tudo aquilo fazia parecer que você tinha um zelo gigante pelo o que preza.
- Você se apaixonou pela minha mania de organização?
- Não. Eu queria ser cuidado como aqueles discos. Não pra ficar na sua estante, mas pra ser tocado, ouvido, sentido… E achei que você tinha me olhado com tanta ternura quando me deu boa noite que eu me sentiria bem ali. No seu espaço. Com o seu braço por cima e uma caneca de café. Eu gosto de café quente e dos seus óculos quadradões. Refletem bem a sua personalidade.
- Você gosta mais de mim do que os outros caras que eu tenho conhecido. Eles gostam do meu rosto ou da minha tatuagem. Gostam de uns papos sobre Dostoievski e Pushkin e leem umas coisas que eu não leria nem por obrigação. Eles gostam da minha segurança na hora de falar e do meu abraço forte. Mas acho que você foi o único que gostou do meu rubor e dos meus jeitos.
- Eu gostei de você. Com medo, mas gostei. Achei engraçado o seu rubor por eu ter te roubado um beijo naquele dia. Mas logo depois você deitou comigo e a gente dormiu.
- Eu sempre mando os outros caras embora antes do amanhecer. E não jogo o braço por cima deles. Eu nunca quis dormir com nenhum deles.
- E por que você tá me falando disso agora?
- Porque eu não desisto de você. Não ainda. A falta anda sozinha e eu fico pensando demais numas coisas em que eu não deveria pensar sem você.
- O ogro se livrou da casca?
- Com você eu nunca tive casca. Eu fui com medo. Mas fui. E eu nunca senti a confusão da cor dos olhos de mais ninguém. Até mudei a forma de guardar os meus discos depois de você.
- Mudou? Achei que nunca fosse mudar. E que ia continuar guardando discos e pessoas na sua estante.
- Mudei. E comprei uns discos novos. Passa lá em casa pra ouvir um pouco deles. Tem café também.
- Mas você odeia café.
- Não se tiver você.
- Eu tenho medo. De parar de novo na sua estante. De arruinar a sua coleção e os seus modos. De não conhecer mais as suas tatuagens e o seu hábito de mascar chicletes o tempo todo. De ter que dormir sozinho – e tá chovendo lá fora. Não sei se arrisco a solidão de um edredom a dois. Eu tenho medo de quebrar os seus discos novos como da última vez.
- Pode deixar que eu tomo cuidado dessa vez.
- Com os discos?
- Não. Com você.
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