Por favor, não perca a doçura
com a qual lê Clarice Lispector, nem perca o brilho nos olhos quando é
Natal. Por favor, continue pensando longe enquanto cozinha, continue
tomando seus banhos demorados, continue se divertindo enquanto lava o
carro. Por favor, tenha na agenda mais contatos de amigos que de
deliverys.
Por favor, viva amores ainda mais loucos.
Sim, tem gente bem mais maluca que eu no mercado. Se apaixone
perdidamente por um chinês de fala engraçada, um francês refinado e
falante e logo depois, se entregue também para um geek cheio de humor.
Não se preocupe em entender se é amor ou paixão, você mesmo me ensinou
que estas são definições rasas para traduzir a vontade de estar junto ou
não.
Assim como saí sem dizer “adeus”, você
entrou sem pedir licença. Num dia comum, um sábado cinza, você pediu
companhia para ir até o supermercado e eu implorei que, por favor, não
me deixasse sozinho, nunca mais. Eu nunca soube ser só. E,
irônicamente, também nunca aprendi a ser tão seu quanto você queria. Eu
não queria ser solitário, nem queria ser teu. Queria ser meu, contigo.
Me desculpe.
Eu me despedi de você enquanto o carro se
afastava do nosso antigo bairro, me despedi enquanto chorava no banho,
enquanto comprava roupas novas que você jamais aprovaria. Me despedi
enquanto quebrava suas regras, que não se aplicavam mais a mim. Me
despedi, quando tive vontade de ligar e não liguei, quando quis
responder a você chamando e não o fiz. Me despedi, mas não disse
“adeus”, ainda.
Adeus.
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